quarta-feira, março 21, 2012

O Soldado Solitário [1]

Não era estranho, nada incomum, era apenas um soldado solitário no antigo cenário onde se acostumou a matar centenas de pessoas. O mesmo palco antigo, a mesma neblina de sempre. Não era perto de nada, um lugar de dar medo nos desinformados. Soldado solitário, qual é o motivo de estar ressucitando as velhas lembranças dos tempos de guerra? Corpos no chão, sangue por todo lugar, pra que fazer isso ficar tão vivo na mente de novo? Vá velho combatente, volte pra casa, esse não é mais seu lugar, mesmo que carregue o seu velho e companheiro revolver consigo, não há mais ninguém aqui possa ser chamado de ameaça. Então, apenas esqueça isso, você sabe que tem um anjo em casa te esperando, apenas siga a voz que te chama.

Não, não é isso que ele quer, prefere continuar vagando pela planície que já fora preenchida por montanhas de corpos humanos devido ao horror de outros tempos. De alguma forma, aquilo o fazia feliz, lembrava dos tempos em que sua agilidade, seu reflexo e sua habilidade com as armas de fogo eram surreais. Lembrava de cada pessoa que matou ali, e a cada nova lembrança, um novo sorriso tímido se abria. Não se sentia bem por ter tido o destino de matar todas aquelas pessoas, mas era isso ou a própria morte. Sentia o peso de todos as pessoas que matou nas costas, um grande peso na consciência de um pobre homem que só seguia ordens naquele tempo.

Voltar para seu lar, sim ele queria, afinal, tem pessoas que o esperam por lá, um anjo, desses que não tem asas. Seguia perambulando por aquela paisagem, revivendo lembranças e pensando nos seus entes queridos, criava diálogos em meio a solidão daquele lugar para que não enlouquecesse por ali mesmo, muito embora, as vezes, pensasse que ja estava começando. Ouvia vozes provenientes do céu, de algum anjo, quem sabe? Ouvia, mas não prestava muita atenção, alucinações nao poderiam atrapalhá-lo agora. "Você não sabe que eu te amo? Você nao sabe que eu sempre o fiz? Por que não voltar logo." O que diabos? Não, essa distração não pode tirar o foco que ele tem.

"Senhor, pode me ouvir agora? Pode fazê-los parar com isso?" Como podia se atrever a isso? Não pode simplesmente fazer isso. E junto com todas essas vozes e diálogos loucos, seguiam as alucinações, pessoas que havia tirado a vida, pessoas que nunca tinha visto, pessoas amadas e corações partidos. "Você não tem muito tempo." Achava ter perdido seu anjo por pura besteira, essa esquizofrenia louca. Esse pessimismo todo, sempre o acompanhou mas agora o faz como nunca. Como poderia aquebe belo anjo fazer isso? Nao podia permitir que aquilo continuasse. E o que pode fazer? Seus olhos nao conseguem ver nada em que possa atirar. Aquela neblina toda atrapalhava demais.

Não sabe muito bem que alternativas tem, está perdido no meio daquela densa atmosfera. O coração preenchido por incertezas, o pensamento completamente voltado ao anjo não alado que o espera e, ao seu redor, muitos dos espíritos que lembram seu tenebroso passado. Lembrava de todas as suas cicatrizes e de como feriu pessoas de maneira irreversível. "Vamos lá, deixe disso, você sabe que eu te amo, então, volte logo pra mim, venha ficar ao meu lado." Como conseguia ignorar isso? Anjo, belo anjo, apenas siga esperando, a volta está próxima. Seguia caminhando, olhando para o céu e tentando adivinhar seu futuro...

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