domingo, março 25, 2012

O Soldado Solitário [2]

Vamos, continua não sendo estranho. É o mesmo cenário, mas, desta vez, não há as corriqueiras explosões de tempos atrás. Vá soldado, as coisas que tinham de ser feitas por aqui ja terminaram, volte pra casa, volte pras asas do seu anjo. Você sabe muito bem que ela te aguarda ansiosamente apenas para poder tocar seus lábios novamente, sussurar mais uma vez no seu ouvido, poder te falar de novo como foi o dia e os planos para o dia seguinte. Vá, sequer sabe o que está procurando por essas terras abandonadas, volte para seu lar, seja feliz novamente.

Ainda existe um caminho a percorrer, não podia simplesmente abandoná-lo na metade. Está com medo do que pode vir a seguir e, mesmo assim, segue rumo ao desconhecido daquele velho palco.Vai vagando em vão, como vermes e vilões, vil e voraz. Segue sensível e sensato, atento às vicissitudes da vida, sabendo sem saber se seu cérebro segue são ou se enlouqueceu. Solitário, sozinho e sonolento, passo a passo, segue seguindo.

Todas essa ilusões estão deixando o pobre soldado louco e ele não tem ajuda. "Vamos, vamos, quem sempre me ajudava nessas horas?":

- Por que toda essa demora? Um lar te espera.

- O que? Quem? Não pode...

- Desista disso, você sabe que por mais que caminhe, jamais chegará aonde quer.

- E quem seria você para me dizer o que fazer? Apenas mais uma dessas todas.

- Acredite no que quiser, apenas quero seu bem e sei que estaria muito melhor aqui.

- Mas como? Essa voz, não dá...

- Deixe de negar os fatos. Você sabe, eu sei que sabe. Por que lutar tanto contra?

- Apenas me deixe pensar, nao estou certo quanto a nada.

- Siga suas vontades, esqueça todo o resto.

Anjo, lindo anjo, não pode eliminar todas as dúvidas existentes na cabeça desse pobre louco. Sozinho, assim é melhor para ele agora, tente ignorar. Já percebeu que ele não dará ouvidos a ninguém. Apenas se preocupe e o ame desse jeito. Mesmo sem perceber, ele se sentirá melhor assim...

quarta-feira, março 21, 2012

O Soldado Solitário [1]

Não era estranho, nada incomum, era apenas um soldado solitário no antigo cenário onde se acostumou a matar centenas de pessoas. O mesmo palco antigo, a mesma neblina de sempre. Não era perto de nada, um lugar de dar medo nos desinformados. Soldado solitário, qual é o motivo de estar ressucitando as velhas lembranças dos tempos de guerra? Corpos no chão, sangue por todo lugar, pra que fazer isso ficar tão vivo na mente de novo? Vá velho combatente, volte pra casa, esse não é mais seu lugar, mesmo que carregue o seu velho e companheiro revolver consigo, não há mais ninguém aqui possa ser chamado de ameaça. Então, apenas esqueça isso, você sabe que tem um anjo em casa te esperando, apenas siga a voz que te chama.

Não, não é isso que ele quer, prefere continuar vagando pela planície que já fora preenchida por montanhas de corpos humanos devido ao horror de outros tempos. De alguma forma, aquilo o fazia feliz, lembrava dos tempos em que sua agilidade, seu reflexo e sua habilidade com as armas de fogo eram surreais. Lembrava de cada pessoa que matou ali, e a cada nova lembrança, um novo sorriso tímido se abria. Não se sentia bem por ter tido o destino de matar todas aquelas pessoas, mas era isso ou a própria morte. Sentia o peso de todos as pessoas que matou nas costas, um grande peso na consciência de um pobre homem que só seguia ordens naquele tempo.

Voltar para seu lar, sim ele queria, afinal, tem pessoas que o esperam por lá, um anjo, desses que não tem asas. Seguia perambulando por aquela paisagem, revivendo lembranças e pensando nos seus entes queridos, criava diálogos em meio a solidão daquele lugar para que não enlouquecesse por ali mesmo, muito embora, as vezes, pensasse que ja estava começando. Ouvia vozes provenientes do céu, de algum anjo, quem sabe? Ouvia, mas não prestava muita atenção, alucinações nao poderiam atrapalhá-lo agora. "Você não sabe que eu te amo? Você nao sabe que eu sempre o fiz? Por que não voltar logo." O que diabos? Não, essa distração não pode tirar o foco que ele tem.

"Senhor, pode me ouvir agora? Pode fazê-los parar com isso?" Como podia se atrever a isso? Não pode simplesmente fazer isso. E junto com todas essas vozes e diálogos loucos, seguiam as alucinações, pessoas que havia tirado a vida, pessoas que nunca tinha visto, pessoas amadas e corações partidos. "Você não tem muito tempo." Achava ter perdido seu anjo por pura besteira, essa esquizofrenia louca. Esse pessimismo todo, sempre o acompanhou mas agora o faz como nunca. Como poderia aquebe belo anjo fazer isso? Nao podia permitir que aquilo continuasse. E o que pode fazer? Seus olhos nao conseguem ver nada em que possa atirar. Aquela neblina toda atrapalhava demais.

Não sabe muito bem que alternativas tem, está perdido no meio daquela densa atmosfera. O coração preenchido por incertezas, o pensamento completamente voltado ao anjo não alado que o espera e, ao seu redor, muitos dos espíritos que lembram seu tenebroso passado. Lembrava de todas as suas cicatrizes e de como feriu pessoas de maneira irreversível. "Vamos lá, deixe disso, você sabe que eu te amo, então, volte logo pra mim, venha ficar ao meu lado." Como conseguia ignorar isso? Anjo, belo anjo, apenas siga esperando, a volta está próxima. Seguia caminhando, olhando para o céu e tentando adivinhar seu futuro...

terça-feira, março 20, 2012

Preocupações

- Sim, estou com medo

- Medo de que se a certeza é tão grande?

- Não sei ao certo, apenas me sentindo um pouco desconfortável.

- Não há motivos para preocupações, você bem sabe.

- Como não? Entender a cabeça das pessoas está longe de ser algo palpável ao saber.

- Talvez, mas com tantas demonstrações, acha realmente que preocupações são plausíveis?

- Sempre serão, evitam que tomemos tombos muito grandes.

- Ainda não consigo compreender... Se a preocupação é tão grande, porque fazer isso tão cedo?

- Apenas pelo fato de não conseguir esperar muito mais. Todas as fibras que me compõem estão pedindo
para que seja feito logo.

- Então, apenas ignore todos esses pensamentos, e vá em frente, isso pode te impedir de fazer o que realmente quer.

- Sim, eu tento fazer isso. Enfim, coisas malucas que acontecem com a cabeça de todo mundo.

- É, você está certo.

- Bom, que a sorte me acompanhe.

segunda-feira, março 05, 2012

Jonny [2]


- Pois é Jonny, tinha tanto tempo que não conversávamos, eu realmente to te estranhando um pouco.

- Deixa disso Léo, eu sempre serei eu, você está apenas estranhando a nova fase que estou passando.

-É isso mesmo Jonny, esse novo você me estranha bastante. Estava acostumado a te ver de um jeito 
completamente diferente do atual.

- Fases vêm e vão, aquela foi embora, essa está chegando. Apenas acostume-se.

- Isso eu faço com uma facilidade grande. Pode deixar.

- Assim espero Léo.

- Mas Jonny, ver você desse jeito, é realmente bom. Não imaginava que você teria uma personalidade tão 
diferente daquela.

- É, mas isso não é só por minha causa, alguns fatores externos ajudam bastante para que isso seja assim.

- Sim, dá pra ver.  E pensar que eu nunca imaginei que você fosse se reerguer tão rápido. Isso me deixa 
realmente feliz.

- E saber que está feliz me deixa feliz.

Um grande abraço e todas as mudanças foram percebidas, tudo que havia acontecido foi explicado. A 
grande ausência não existia mais e podíamos ser amigos como todos os amigos são, como éramos.

- Jonny, você é o amigo que todos queriam poder imaginar.

E a realidade seguia sendo exposta.

domingo, março 04, 2012

Jonny [1]

- Ei Jonny, você não acha que está agindo um pouco estranho demais?

- Que culpa tenho se não quero  controlar todos esses impulsos?

- Mas Jonny, você não devia tentar contê-los pelo menos um pouco?

- Pra que isso Léo? Deixar que tudo aconteça do jeito que tem de ser, isso faz com que eu me sinta feliz e 
não quero que nada mude.

- E desde quando você ficou desse jeito? Sempre pensou muito em todas as suas ações, tentava prever todos os resultados possíveis de tudo o que fazia, desde quando você mudou tão radicalmente?

- Desde que certas coisas aconteceram, coisas boas, coisas ruins, depende muito do ponto de vista. Pensar demais nem sempre é bom.

- Sim, eu sei.

- Então, deixe que seus instintos comandem tudo.

- Mas Jonny, isso não me parece muito certo. Isso me parece conversa de...

- E quem sabe não seja Léo?

- Jonny, não me diga que você...

E deixe que tudo flua. Sem impedimentos.