segunda-feira, setembro 01, 2014

O Lugar Nenhum

Um teatro
Uma floresta
Um incêndio
Um campo de batalha.

Há pessoas mascaradas fazendo coisas completamente sem sentido. Observa enquanto tenta compreender o que se passa. As máscaras são horripilantes, parecem ter origem na mais terrível história do seu imaginário. Aquilo o assustava, assustava de uma forma que seus próprios fantasmas não conseguiam. A plateia era formada por manequins, todos eles sem rosto. Não reagiam a nada, não se mexiam, não falavam. A impessoalidade da coisa era muito curiosa. Qual era o motivo daquele espetáculo para aqueles bonecos todos? Vira-se uma vez mais para os mascarados, todos o ameaçavam e toda aquela construção se desmonta. 

As árvores possuem formatos incomuns e sem um padrão que seja notável àqueles olhos. É possível notar a respiração das folhas e dos troncos. Os galhos se mexem como tentáculos e fazem tudo o que podem para bloquear a luz. Aparentemente, sua visão, em breve, não lhe serviria mais de nada. Ouve vozes dizendo coisas completamente desconexas. De repente, animais surgem correndo com tudo o que podem, fazem muito barulho, percebe que estão todos assustados. Atenta-se ao seu redor e vê um clarão se aproximar.

A temperatura começa a aumentar  descontroladamente, o fogo passa a consumir tudo. Os animais ficarão sem lugar para ir. Fixou o olhar naquela labareda, pensava em fugir, mas, por alguma razão, deveria ficar ali e enfrentá-la mesmo sabendo que não havia uma vitória o esperando. Senta-se e apenas espera. O fogaréu o cerca, não o afeta, mas acaba com tudo ao seu redor. Surge um relógio no pulso direito, ele começa a olhar a movimentação dos ponteiros. São muitos os movimentos e, assim como chegaram, as chamas somem sem uma explicação. O relógio some e o frio começa.

Um asfalto esburacado surge do chão logo à sua frente. Quer guiá-lo para algum lugar. Levanta-se e logo dá seus primeiros passos sem saber aonde está indo. Sempre fora uma pessoa curiosa. Direita, esquerda, direita, esquerda. Essa repetição ocorre centenas de vezes até que, logo à sua esquerda, uma explosão, que foi completamente ignorada, ocorre. Mais algumas dezenas de vezes até que levante sua cabeça. Vira-se para a esquerda e vê capacetes brancos, para a direita e vê capacetes negros. Decide fechar os olhos e ouve disparos incontáveis. Os sons e as origens deles não o ameaçavam, porém, o perturbavam bastante. O asfalto some e tudo o que resta é uma trilha de barro.

Todo aquele cenário era horrendo, por várias vezes desejou, secretamente, a morte e, por várias outras, desejava que sequer tivesse nascido. O barro por onde passou a andar deixava tudo bem claro. Saíra de lugar algum e estava indo, sem hesitar,  para lugar nenhum.

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