terça-feira, janeiro 13, 2015

Os Tais Deuses

- Ora, aquele reles humano está ali de novo para nos pedir favores, todas as semanas ele está lá.
- Ora, por que o chama assim, irmão?
- Ele está sempre nos pedindo algo, esse é o porquê.
- Nós somos deuses, isso é bem normal.
- Sim, mas não podem pedir nossa ajuda por qualquer coisa.
- Não?
- Não!
- Mano, não seja assim, aquele humano não é um que não tenha valor, afinal, existimos por causa dele.
- O que quer dizer?
- Não é óbvio? Só existimos pela crença dele, se, por algum acaso, ele parar de acreditar em nós, vamos simplesmente desaparecer?
- Enlouqueceu? Somos seres divinos, não dependemos de humanos para existir, muito pelo contrário.
- Mesmo?
- Tenho toda certeza.
- Então, quer dizer que temos poderes infinitos? Podemos criar tudo o que quisermos apenas com a força de nossas mentes, temos o poder de fazer que as coisas sejam exatamente como queremos?
- Sim, tenho total convicção disso.
- Ai ai – dizia enquanto balançava a cabeça – como pode ter esse pensamento tão infantil? Só somos capazes de fazer isso porque alguém acredita que podemos.
- Deixe de besteiras, meu irmão, não somos considerados deuses à toa.
- Afinal, quem nos considera deuses?
- Nossos poderes ilimitados e nossa imortalidade deixam isso claro.
- Ah, irmãozinho, como você precisa aprender coisas.
- O que quer dizer?
- Digo que você é muito inocente. Venha comigo.
            Os dois logo deram passos, não demoraram muito, até que avistassem uma mulher, aparentemente bem cansada, trabalhando incessantemente com umas pilhas papéis:
- Veja lá, faça que pare de trabalhar e volte pra casa.
- Facilmente.
            Fez alguns poucos gestos com a mão direita e, logo em seguida, a mulher guardou todos os papéis e se colocou no caminho para casa.
- Aí está
- Muito bem, mas não terminamos, siga-me.
            Os deuses caminharam por cima das nuvens, enquanto o mais velho deles procurava por algo, ou alguém, para ensinar algo a seu caçula. Não foi tão rápido quanto achar aquela mulher. Então, na terra, viram um homem que chorava muito frente à uma pilastra:
- Veja lá, irmãozinho, use seus poderes, faça que pare de chorar.
- Como quiser.
            Logo fez alguns gestos com as mãos. Fez outros e outros. Nada que fizesse aquele homem parar de chorar. Tentou por um certo tempo, mas nada que tentasse fazer surtia efeito:
- Não estou conseguindo, o que está havendo?
- É tão simples, você não tem poder sobre ele porque ele não acredita na nossa existência, nada que façamos pode fazê-lo parar de chorar.
- E qual o motivo para tantas lágrimas?
- Acho que a mãe dele morreu ontem. Mas o que importa é o que quero mostrar, só temos o que achamos ter porque alguns nos levam a sério, acreditam em nós, aos que acreditam em nossa inexistência, não podemos fazer nada, seja para ajudar ou não.
- Então, nossos poderes têm limites nas crenças de cada humano lá embaixo.
- Não só nossos poderes, irmão, nossa existência inteira depende da crença deles.
- Está dizendo que não somos fortes como a maioria dos humanos pensa?
- Sim, é isso que estou dizendo. Eles existem, nós querendo ou não, e podem influenciar em nossa existência, são eles que detêm o poder divino.
- Por que então eles nos pedem as coisas?
- Eles não sabem o poder que tem, acham que são inferiores a nós em todos os sentidos. Se eles tivessem conhecimento do potencial que possuem para mudar as coisas ...
- Ora, irmão, por que acredita tanto neles?
- Por que tantos acreditam em nós? Eles podem nos extinguir a qualquer momento.
- Não se reduza tanto, você é um deus.
- Sim, eu sou e, justamente por isso, podem duvidar de mim, que eu exista. Os humanos não passam por isso.
- Por acaso, você está insinuando que toda a fé que eles têm em nós é, simplesmente, inútil?

- Não, irmãozinho. Sinceramente, eu acredito que um pouco de fé os ajude em certas ocasiões. Porém, eu acho que as coisas seriam muito melhores se eles começassem a acreditar em si mesmos.

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