-
Ora, aquele reles humano está ali de novo para nos pedir favores, todas as
semanas ele está lá.
-
Ora, por que o chama assim, irmão?
-
Ele está sempre nos pedindo algo, esse é o porquê.
-
Nós somos deuses, isso é bem normal.
-
Sim, mas não podem pedir nossa ajuda por qualquer coisa.
-
Não?
-
Não!
-
Mano, não seja assim, aquele humano não é um que não tenha valor, afinal,
existimos por causa dele.
-
O que quer dizer?
-
Não é óbvio? Só existimos pela crença dele, se, por algum acaso, ele parar de
acreditar em nós, vamos simplesmente desaparecer?
-
Enlouqueceu? Somos seres divinos, não dependemos de humanos para existir, muito
pelo contrário.
-
Mesmo?
-
Tenho toda certeza.
-
Então, quer dizer que temos poderes infinitos? Podemos criar tudo o que
quisermos apenas com a força de nossas mentes, temos o poder de fazer que as
coisas sejam exatamente como queremos?
-
Sim, tenho total convicção disso.
-
Ai ai – dizia enquanto balançava a cabeça – como pode ter esse pensamento tão
infantil? Só somos capazes de fazer isso porque alguém acredita que podemos.
-
Deixe de besteiras, meu irmão, não somos considerados deuses à toa.
-
Afinal, quem nos considera deuses?
-
Nossos poderes ilimitados e nossa imortalidade deixam isso claro.
-
Ah, irmãozinho, como você precisa aprender coisas.
-
O que quer dizer?
-
Digo que você é muito inocente. Venha comigo.
Os dois logo deram passos, não
demoraram muito, até que avistassem uma mulher, aparentemente bem cansada,
trabalhando incessantemente com umas pilhas papéis:
-
Veja lá, faça que pare de trabalhar e volte pra casa.
-
Facilmente.
Fez alguns poucos gestos com a mão
direita e, logo em seguida, a mulher guardou todos os papéis e se colocou no
caminho para casa.
-
Aí está
-
Muito bem, mas não terminamos, siga-me.
Os deuses caminharam por cima das
nuvens, enquanto o mais velho deles procurava por algo, ou alguém, para ensinar
algo a seu caçula. Não foi tão rápido quanto achar aquela mulher. Então, na
terra, viram um homem que chorava muito frente à uma pilastra:
-
Veja lá, irmãozinho, use seus poderes, faça que pare de chorar.
-
Como quiser.
Logo fez alguns gestos com as mãos.
Fez outros e outros. Nada que fizesse aquele homem parar de chorar. Tentou por
um certo tempo, mas nada que tentasse fazer surtia efeito:
-
Não estou conseguindo, o que está havendo?
-
É tão simples, você não tem poder sobre ele porque ele não acredita na nossa
existência, nada que façamos pode fazê-lo parar de chorar.
-
E qual o motivo para tantas lágrimas?
-
Acho que a mãe dele morreu ontem. Mas o que importa é o que quero mostrar, só
temos o que achamos ter porque alguns nos levam a sério, acreditam em nós, aos
que acreditam em nossa inexistência, não podemos fazer nada, seja para ajudar
ou não.
-
Então, nossos poderes têm limites nas crenças de cada humano lá embaixo.
-
Não só nossos poderes, irmão, nossa existência inteira depende da crença deles.
-
Está dizendo que não somos fortes como a maioria dos humanos pensa?
-
Sim, é isso que estou dizendo. Eles existem, nós querendo ou não, e podem influenciar
em nossa existência, são eles que detêm o poder divino.
-
Por que então eles nos pedem as coisas?
-
Eles não sabem o poder que tem, acham que são inferiores a nós em todos os
sentidos. Se eles tivessem conhecimento do potencial que possuem para mudar as
coisas ...
-
Ora, irmão, por que acredita tanto neles?
-
Por que tantos acreditam em nós? Eles podem nos extinguir a qualquer momento.
-
Não se reduza tanto, você é um deus.
-
Sim, eu sou e, justamente por isso, podem duvidar de mim, que eu exista. Os
humanos não passam por isso.
-
Por acaso, você está insinuando que toda a fé que eles têm em nós é,
simplesmente, inútil?
-
Não, irmãozinho. Sinceramente, eu acredito que um pouco de fé os ajude em
certas ocasiões. Porém, eu acho que as coisas seriam muito melhores se eles
começassem a acreditar em si mesmos.
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