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Essas flores, todas elas são tão sem personalidade, sem cores, perfume e graça.
Poderia substituir todas elas por grama que não faria diferença. As pétalas não
chamam atenção, não há motivos para que eu continue aqui.
Foram as últimas palavras daquele
adolescente antes de mergulhar no mundo em busca de novas flores, cores,
perfumes e graça. Simples demais, há campos de flores em qualquer lugar desse
mundo. Não seria nada difícil encontrar o que aquele jovem estava procurando.
E, de fato, não era difícil encontrar flores por aí, a dificuldade estava em
agradar permanentemente aquele andarilho, enjoava das flores com uma facilidade
quase tão grande quanto achar as novas flores.
Não havia perfume em pétalas que o
prendesse. As flores o agradavam numa primeira visão, mas não levava tempo para
que deixasse de lado e se aventurasse novamente. Caminhava sob a luz do Sol em
busca de campos que nunca havia ouvido falar, de flores que, ao que parecia,
apenas sua imaginação conhecia. E, por seguir sua imaginação, perambulou por esse mundo como
pouquíssimos já fizeram. Sempre fazendo amizades por onde passava, afinal, não
há quem suporte viver sozinho por tanto tempo.
E, com direções recebidas de uma
dessas amizades, seguiu por um longo caminho em direção a um campo onde,
supostamente, as flores eram como os sonhos que a grande maioria das pessoas
tinha. As flores desse lugar podiam ouvir os que por ali passavam, era o que
diziam. Besteira, claro, mas arriscaria de qualquer forma.
Quando finalmente chegou, percebeu
toda a beleza daquelas flores, sentiu o perfume que era exalado por todas
aquelas que ali estavam. Encantou-se, como sempre fez quando chegava a um lugar
novo, nada que garantisse que ali estavam as pétalas que procurava. Permaneceu
por alguns dias, acampou e esperou até que enjoasse daquele lugar.
Após alguns dias, começou a arrumar
suas coisas, estava partindo, seguindo novamente a sua imaginação. E, no
momento que colocou o pé na trilha que o levara ali, decidiu dar meia volta.
“As flores nos ouvem, por que não falar com elas?” Sentou-se do lado das flores
que mais lhe chamavam atenção e recitou alguns versos que tinha na cabeça.
Esperou por um tempo e, para sua surpresa, as flores moldaram-se de acordo com
o sentimento das palavras que ouviam. Era curioso.
Esses acontecimentos fizeram que
ficasse ali por muito mais tempo, sempre moldando as flores com palavras para
ver se tomavam a cara que queria. Nunca se satisfazia e sempre mudava a cara
daqueles campos. Até que, certo dia, ou melhor, certa noite, estava com a
cabeça repleta de pensamentos, não bons, mas não ruins, pensamentos
indefinidos. Dormiu com o cérebro povoado e falou uma infinidade de palavras
enquanto dormia, palavras essas que estavam presas em seu subconsciente. Estas
moldaram as flores para algo extremamente novo.
Acordou e maravilhou-se pela beleza
que seu inconsciente gerou. Alcançara o campo que tanto imaginou sem entender
como. As flores ali pareciam uma espécie de Jasmim, eram belas, tinham um perfume
hipnotizante e cores deslumbrantes. Não existiam motivos para que saísse dali.
Com os Jasmins casou e com elas sua vida beirava a perfeição. Não se sabe, mas
pode ser que tenha sido feliz para sempre.